O setor de biodiesel está de olho no futuro. Nessa última sexta-feira (22), a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) apresentou um pedido junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para que as especificações do biodiesel brasileiro se tornem ainda mais rigorosas. A ideia é antecipar mudanças que só serão necessárias a partir de janeiro de 2023 quando a oitava fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) – o equivalente nacional do rigoroso padrão de emissões Euro 6 – entra definitivamente em vigor.
A formalização da proposta à ANP foi decidida pelo conselho da Aprobio na terça-feira passada (19). Mas esse foi só o ponto final de um processo que durou mais de um ano de trabalho. “Essa era uma demanda que a gente já vinha discutindo internamente desde o ano passado”, conta o presidente do conselho da Aprobio, Erasmo Battistella, acrescentando que o texto apresentado foi elaborado por um grupo de trabalho construído pelos “técnicos e engenheiros das indústrias” associadas.
Menos metais
Segundo Erasmo, a proposta foi elaborada pelo GT ouvindo sobretudo o setor automotivo. “Fizemos uma análise de mercado para ver qual seria o melhor caminho a seguir e quais seriam os aspectos da especificação do biodiesel que deveriam ser mais bem trabalhados”, resume o empresário. “Depois reunimos os técnicos para avaliar nossa capacidade de entrega do produto pedido. Não adiantaria nada a gente construir uma especificação que não fosse factível ou que gerasse um impacto absurdo sobre o preço do produto”, completa.
Esse ponto de intersecção foi encontrado nos teores de metais presentes no biodiesel: a proposta da Aprobio reduz substancialmente os teores de sódio, potássio, cálcio, magnésio e fósforo permitidos no biodiesel. “Estamos trazendo o nível de fósforo para o mesmo nível usado na Comunidade Europeia e os outros metais para níveis cerca de 40% abaixo da norma atual. São melhorias significativas”.
Atualmente, a Resolução ANP 45/2014 define o teor de fósforo em 10 mg para cada quilo de combustível fabricado. A Aprobio quer baixar o limite para 4 mg/kg. No caso dos outros elementos, os teores seriam reduzidos de 5 para 2,8 mg/kg. Essa redução é importante porque esses elementos reduzem a eficiência dos sistemas de controle de poluentes que deverão ser adotados para atender às demandas do Proconve.
A antecipação da obrigação ajudaria também a pavimentar o caminho para a adoção do B20. “Estamos olhando um novo cenário. Queremos atender o Euro 6 e reforçar a necessidade de continuidade do programa do biodiesel saindo de 15% para 20%. Por isso estamos agindo de forma antecipada. Nossa visão é para daqui a 12 anos”, elabora.
Biodiesel filtrado
Além da redução dos teores de contaminantes, a Aprobio também quer que a cadeia passe a ser obrigada a filtrar o biodiesel. “Defendemos isso porque acreditamos que temos que manter a qualidade desde a produção até o abastecimento do veículo. Se o biodiesel sai da usina com qualidade e, ao longo do caminho, é armazenado em um tanque contaminado com resíduos, a filtragem vai reduzir os problemas”, diz acrescentando que tornar essa uma obrigação para todo o mercado daria mais uniformidade ao produto.
“Ter a filtragem melhora a qualidade ao longo da cadeia como um todo e sabemos que a cadeia do biodiesel é bastante longa”, prossegue.
As mudanças, segundo Erasmo, não seriam tão drásticas. “Elas não exigiriam investimentos tão expressivos a ponto de não poder fazer. Não é um investimento astronômico”, garante o empresário acrescentando que a proposta encaminhada pela Aprobio oferece um prazo de quatro meses para que todos os agentes se adaptem às novas exigências.
Convergentes
Em linhas gerais, as mudanças propostas pela Aprobio, vão na mesma direção programa Bio+ anunciado há cerca de duas semanas pela Abiove. Aberto apenas para seus próprios associados, a iniciativa cria o primeiro padrão privado de qualidade do biodiesel no Brasil que também limita teores de metais admitidos no biodiesel.
A despeito da decisão da ANP de modificar a especificação do biodiesel, a Aprobio já antecipa que deverá também criar um selo de qualidade para seus associados. A ideia da entidade é selecionar o agente externo que será responsável por atestar que todas as empresas que aderirem ao selo sigam as regras. “É muito difícil se autocertificar, por isso vamos trazer uma empresa parceira”, comenta acrescentando que ela só não foi selecionada porque a pandemia atrasou os trabalhos. “Teríamos que fazer algumas visitas técnicas e estamos sofrendo um pouco com essa parte”, pontua.
“Estamos preocupados em melhorar o que já é bom. Com essas medidas estamos dizendo claramente o para o mercado ‘o setor de biodiesel está comprometido com a melhoria constante’ sempre que der para melhorar sem agregar custos exorbitantes para o consumidor estamos dispostos a agir. Em geral é o governo que faz exigências para os produtores, aqui é justamente o contrário”, finaliza.
Fonte: BiodieselBR
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