A disponibilidade de matéria-prima para produção de biodiesel no Brasil é escassa mesmo com a safra recorde de soja. A valorização do dólar incentiva os produtores a elevarem as exportações da commodity, principalmente para a China, e pressiona os setores de combustíveis e de alimentos, que usam a gordura vegetal extraída do grão. Diante deste cenário, o governo tem reduzido a mistura obrigatória do biocombustível no diesel e o mercado pressiona por uma autorização para importar o óleo de soja. "Defendemos que o Brasil crie uma estratégia com olhar para 2030-40", disse Erasmo Carlos Battistella, presidente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) à Argus. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como a Aprobio analisa a decisão do governo de zerar a tarifa de importação do grão? Esta medida pode refletir nos preços da matéria-prima produzida no país?
Zerar a tarifa não afeta a produção de biodiesel porque somos obrigados a comprar e utilizar matéria-prima brasileira. Indiretamente ajuda porque outras empresas que atendem a cadeia de alimentos estão importando soja e óleo de soja. Isso faz com que o prêmio desse produto no mercado caia e, consequentemente, reduza o preço da matéria-prima. É um benefício indireto com impacto pequeno, mas positivo no setor de biodiesel.
Tratamos essa redução da alíquota como uma saída emergencial de curto prazo. Defendemos que o Brasil crie uma estratégia com olhar para 2030-40 formando estoques estratégicos de insumos e criando políticas que retomem a agroindustrialização do país com liderança do MME [Ministério de Minas e Energia] e do Mapa, além da recriação do Ministério da Indústria.
A autorização para o uso de grão ou óleo de soja importado poderia dar algum tipo de fôlego ao setor? A entidade participa desta conversa com o governo?
De acordo com o edital da ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], a matéria-prima para produção de biodiesel deve ser nacional. A regra do jogo não deve ser alterada no meio do processo e a questão da matéria-prima pode fazer parte da discussão do sistema de comercialização de biodiesel que está em andamento.
Esperamos que o Mapa e a Conab ofereçam informações mais fidedignas sobre o monitoramento dos estoques de soja e que o Mapa desenvolva uma política de estoque mínimo sem afetar o mercado de exportação.
Qual sua opinião sobre o governo ter reduzido de 12pc para 11pc a mescla de biodiesel no óleo diesel durante o último leilão alegando a escassez de insumos?
Sempre somos contra a redução da mistura, mas entendemos que em algum momento a medida vem para benefício do todo se for discutida com todos os atores da cadeia. Nós concordamos neste momento com a redução porque era a medida alternativa correta.
O atraso no plantio de soja e o câmbio favorável para exportação podem prejudicar os próximos leilões de biodiesel da ANP, especialmente o de fevereiro, que marca a elevação da mistura para 13pc?
Não temos a necessidade de trabalhar com [mescla inferior] a 11pc. Por se tratar do começo do ano, período em que o consumo de diesel diminui significativamente, será possível manter, com segurança, a mistura prevista de 12pc [para o próximo certame].
Defendemos que o cronograma [do mandato, com elevação para 13pc] seja mantido para março de 2021 até porque tem muitos investimentos que estão sendo concluídos e temos também muita matéria-prima que vai ser ofertada a partir de janeiro e fevereiro no Brasil com a entrada da colheita da nova safra de soja.
As usinas têm estoque suficiente de insumos para produção de biodiesel até que mês?
Não posso fazer uma afirmação precisa por todas as usinas, mas pelo que tenho de informação posso estimar que há estoque até janeiro e fevereiro.
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