BRASÍLIA — O ataque hacker aos sistemas da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) no início de agosto levou o órgão regulador a suspender a publicação de dados do setor de combustíveis, colocando uma sombra sobre fiscalização do cumprimento do mandato de biodiesel no Brasil.
Desde a extinção dos leilões de biodiesel no final do ano passado, a comercialização do biocombustível é feita diretamente entre produtores e distribuidoras, por meio de contratos de venda e compra.
Para que a ANP — e qualquer outro interessado — possa fiscalizar o cumprimento da mistura obrigatória do renovável ao diesel fóssil, hoje em 10%, os agentes econômicos são obrigados a demonstrar à agência que tem contratado, a cada bimestre, pelo menos 80% do volume necessário para o mandato.
Esses dados são então divulgados no site da ANP, contudo, a informação mais recente é de 18 de julho.
Sem a atualização, o setor fica às escuras, sem saber se estão sendo cumpridas a mistura de 10% biodiesel (B10) ao diesel fóssil e as metas de contratos. Também não é possível acompanhar a variação de preço entre o renovável e o fóssil.
Segundo a Aprobio, associação que representa os produtores de biocombustíveis, o setor tem cobrado por um pronunciamento da ANP, mas ainda não obteve respostas.
Nesta quarta (19), a agência comunicou a retomada a verificação do atendimento à meta de contratação para fornecimento de biodiesel entre distribuidores e produtores.
Em nota, diz que os produtores de biodiesel terão até 25 de outubro para protocolar no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) os extratos de contratos com as distribuidoras referentes a novembro e dezembro.
“A partir dessas informações, a ANP comunicará, em seu site, até o início de novembro, a situação de cada parte, distribuidor e produtor, quanto ao atingimento das metas e a limitação de comercialização no bimestre citado”.
As informações, no entanto, dizem respeito ao último bimestre. A redação também entrou em contato com a ANP sobre a divulgação de dados que cobrem julho a outubro, mas não houve resposta até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto.
Produção em queda, ociosidade em alta
A produção de biodiesel no Brasil recuou 14% no primeiro semestre e deve fechar o ano em 6,3 bilhões de litros, um pouco abaixo dos 6,7 bi em 2021. A queda é consequência do corte na mistura obrigatória com o diesel, que deveria ser de 14% este ano, explicam os produtores.
Até junho de 2022, último mês com dados disponíveis da ANP, o volume de vendas de biodiesel foi de 2,9 bilhões de litros. No acumulado do mesmo período do ano passado, o volume comercializado foi de 3,4 bilhões de litros.
A redução da mistura obrigatória de 14% para 10% deve tirar do mercado este ano cerca de 2,5 bilhões de litros de biodiesel. Volume que terá que ser compensado com importações.
De acordo com a Abiove, que representa a indústria de óleo vegetais, o Brasil despendeu U$S 6,6 bilhões em importação de óleo diesel entre janeiro e setembro de 2022.
Para 2023, a associação calcula que a retomada no cronograma de mistura, com B14 em janeiro e fevereiro e B15 a partir de março, a demanda pelo produto renovável seria da ordem de 9,9 bilhões de litros.
Já a Ubrabio, outra associação da cadeia de biodiesel, observa que a ociosidade do parque industrial do segmento hoje é de 53%.
Segundo a entidade, 57 usinas de biodiesel, distribuídas em 15 unidades da federação, estão autorizadas a produzir 13,3 bilhões de litros/ano.
Além disso, oito usinas em ampliação mais 11 em construção adicionarão no curto prazo mais 3,3 bilhões de litros/ano. Com isso, a capacidade de produção alcançará no curto prazo 16,6 bilhões de litros/ano.
Fonte: epbr
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