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01 out 2018 - 19:06
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O Brasil tem ferramentas para pôr um fim ao desmatamento na Amazônia



Não há motivos para mais desmatamento na Amazônia, pois há abundância de terras degradadas disponíveis para o lucro e o crescimento do agronegócio. Esta é a mensagem prática e positiva apresentada em 'Desmatamento Zero na Amazônia: como e por que chegar lá', um relatório lançado pela primeira vez na COP23 em Bonn, na Alemanha, em novembro do ano passado, do Grupo de Trabalho (GT) pelo Desmatamento Zero, uma coligação de analistas de ONG da Greenpeace, Instituto Centro de Vida, Imaflora, Imazon, Instituto Socioambiental, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), The Nature Conservancy (TNC) e o World Wide Fund for Nature (WWF).


O objetivo do documento é demonstrar estratégias viáveis para eliminar, a curto prazo, o desmatamento na Amazônia, com benefícios ambientais, econômicos e sociais para todos.

O desmatamento é necessário para a prosperidade brasileira?


A floresta Amazônica, com sua extraordinária biodiversidade, é vital para o mundo, ainda que somente pela capacidade de armazenar quantidades espetaculares de carbono, ajudando a evitar alterações climática rápidas - ou até mesmo -, irreversíveis. No entanto, o desmatamento total entre 1970 e 2017 foi de 768.935 quilômetros quadrados, uma área duas vezes maior que a da Alemanha. E embora o valor de desflorestamento anual da floresta Amazônica tenha sido drasticamente reduzido desde o ano de pico de desmatamento em 2004, um total de 6.624 quilômetros quadrados foi desmatado entre 1 de agosto de 2016 e 31 de julho de 2017, uma perda equivalente a 112 ilhas de Manhattan, ou metade do estado americano de Maryland, nos Estados Unidos.

Paulo Moutinho, um cientista sênior trabalhando na ONG científica Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), acredita que o desmatamento não é mais necessário para o crescimento do Brasil. Ele constata que o país tem um excedente de 15-20 milhões de hectares de terras já desmatadas e degradadas que são subutilizadas ou abandonadas pelo agronegócio. 'Ao recuperarmos essa área para a agricultura, podemos expandir a produção agrícola sem cortar uma única árvore,' Moutinho disse à Mongabay.

'Além disso, uma grande parte da área desmatada foi usada para criações de gado extensivas e de baixo lucro', disse ele. Técnicas simples, como a rotação de pastagens, podem aumentar a densidade de cabeças de gado por hectare e aumentar drasticamente a produtividade da pastagem. Esta medida desocuparia mais terras desmatadas anteriormente para a expansão da cultura e, consequentemente, reduziria a pressão que impende sobre as florestas remanescentes.

O engenheiro florestal Vinicius Guidotti, pesquisador no Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e coordenador de sua equipe de geoprocessamento, concorda. As pastagens brasileiras, diz ele, ocupam cerca de 166 milhões de hectares. É duas vezes maior que a área ocupada pelas terras agrícolas, que é de 77 milhões de hectares. A produção de carne bovina nessa área enorme é extremamente ineficiente, diz ele, acomodando, em média, somente 1.32 cabeças de gado por hectare.

'A boa notícia é que com pequenas mudanças no manejo de pastagens e do gado, poderíamos facilmente elevar esta média para 2 cabeças por hectare. Isso liberaria 56 milhões de hectares para a ampliação de terras agrícolas e manteríamos o mesmo rebanho bovino, 'ele disse. 'Claro, isso não é uma tarefa fácil, e há vários desafios até implementarmos as mudanças necessárias.' Mais uma boa notícia: desde 2017, mais de 3.316.000 quilômetros quadrados da floresta Amazônica brasileira seguem intactos.

Lucro rápido e falta de comprometimento


Além dessas realidades estatísticas, as ineficiências em larga escala do agronegócio brasileiro permanecem sendo praticadas, e isso não é nada bom em relação ao desmatamento futuro.

De acordo com Ian Thompson, diretor-executivo adjunto do programa brasileiro do The Nature Conservancy, a principal razão é simples: o preço de compra de terras.

A solução mais simples seria que o governo e a indústria fizessem um trabalho melhor de rastreamento de gado, começando no ponto de origem e seguindo a cadeia de abastecimento do fornecedor indireto, ao fornecedor e até o matadouro. Apenas cerca de 100 empresas são responsáveis por 93% do abate de gado na Amazônia, por isso não seria tão desafiador, logisticamente falando, aproximar-se dessas empresas e oferecer incentivos para que adotem uma meta de desmatamento zero.

A esse respeito, Mazzetti culpa o governo brasileiro pela falta de vontade. No COP21 em Paris, em 2015, o Brasil comprometeu-se a atingir desmatamento ilegal zero na Amazônia, mas não antes de 2030. 'A mensagem enviada foi que o crime seria tolerado por mais 15 anos,' ela disse.

Soluções


A maioria dos analistas concorda: desmatamento é um problema complexo, assim como as soluções. 'Não há nenhum método infalível', diz Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF Brasil. 'Combater o desmatamento na Amazônia requer uma nova visão de desenvolvimento para a região, com políticas que promovam a utilização sustentável dos produtos florestais e a expansão de commodities agrícolas em terras degradadas.'

O relatório ZDWG oferece um roteiro para atingir esses objetivos, com quatro linhas de ação em vários setores, incluindo a implementação de políticas públicas ambientais eficazes e persistentes; promoção de adesão à exploração sustentável da floresta e melhores práticas agrícolas; implementar restrições drásticas no mercado em produtos associados a novos desmatamentos; e engajar os eleitores brasileiros, consumidores globais e investidores nacionais e internacionais no esforço para acabar com a derrubada das florestas.

Uma das ações mais urgentes necessárias, de acordo com analistas, é o reforço da aplicação das leis para conter a apropriação ilegal de terras, especialmente terras públicas. Em 2016, pelo menos 24% do desmatamento na Amazônia ocorreu em terras públicas sem destinação clara.

Atualmente, há 70 milhões de hectares sem destinação clara na Amazônia. Estas áreas, sugerem os ambientalistas, precisam ser convertidas em terras indígenas e/ou unidades de conservação para frear o desmatamento especulativo - um processo pelo qual terras públicas são devastadas de forma ilegal para que possam ser vendidas com uma alta margem de lucro para criadores de gado ou agricultores.

O Brasil também precisa apoiar de forma determinada uma economia florestal sustentável, dizem os especialistas. De acordo com as estatísticas oficiais citadas no relatório ZDWG, a extração de produtos florestais rendeu uma média de R$ 3 bilhões de lucro em 2015 e 2016.

A boa notícia, dizem os analistas de ONGs, é que o governo pode apoiar as melhores práticas para a geração de produtos florestais fortalecendo e melhorando os programas brasileiros já em vigor, incluindo a Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPMBio); o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF); a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATer); e o cultivo da Palma de  Óleo (diagnóstico da câmara setorial).

As boas práticas também precisam ser implementadas na pecuária. Segundo o relatório, isso pode ser feito aumentando a produtividade da pecuária de 80 kg para 300 kg por hectare por ano e restaurando 391.000 hectares de florestas por ano. Atingir esse objetivo não seria barato, mas o investimento necessário é apenas 15% dos R$ 5 bilhões que o governo oferece anualmente em crédito rural para a pecuária.

'Há enorme potencial inexplorado [gado e terras de lavoura] em terras subaproveitadas, já abertas,' explica Thompson, da TNC. O crescimento da produção de grãos poderia ser alcançado pela conversão de pastagens adequadas, enquanto a produção de carne poderia crescer através de um maior investimento em tecnologia e gestão profissional.

Thompson alertou sobre o perigo ao agronegócio em não tomar uma atitude: 'Há a desvantagem para o crescimento a longo prazo com desmatamento - perda de serviços ecossistêmicos tais como armazenamento de gás carbônico e conservação da água, que gera incerteza para a atual sustentabilidade da produção agrícola.'

As próximas eleições


Os analistas da ZDWG acreditam que os consumidores e a sociedade civil têm um papel importante na proteção das florestas amazônicas, informando-se e insistindo por cadeias de abastecimento livres de desmatamento, expondo e boicotando empresas que ignoram as boas práticas e elegendo funcionários comprometidos com o fim do desmatamento.

O que é evidente para os especialistas é que a situação política atual precisa mudar se quisermos preservar a Floresta Amazônica.

Mazzetti, do Greenpeace, observa que recentes sondagens mostram que a maioria dos brasileiros apoiam a conservação da floresta e que os compradores internacionais não querem investir em produtos associados ao desmatamento. Assim, a pressão da opinião pública sobre o mercado e a aplicação de leis e regulamentos ambientais são essenciais para enfraquecer os programas ruralistas mais perigosos.

Moutinho do IPAM acredita que envolver os ruralistas no debate ambiental é essencial. '[E]stamos fazendo esforços para reunir os membros da Frente Parlamentar Ambientalista e membros da Frente Parlamentar da Agricultura para falar sobre os riscos resultantes do desmatamento e da produção agrícola na Amazônia,' ele disse, observando que a proteção da floresta é a única forma de proteger o setor agrícola contra o aquecimento global.

'Nossa esperança é que falando sobre elementos comuns [tais como a economia] nós poderemos fazer algum avanço em termos de consenso e promover uma política para proteger as florestas restantes', acrescentou.

Thompson, da TNC, acredita que as crescentes mudanças climáticas resultarão em restrições de mercado e perdas econômicas que podem acelerar uma mudança para a sustentabilidade. Mas ele também acha que o setor do agronegócio e as forças da sustentabilidade já estão se aproximando e chegando a um consenso. 'As eleições são uma oportunidade para renovar a perspectiva nacional e as prioridades estratégicas', disse ele, acrescentando que um novo governo poderia, por exemplo, priorizar o estabelecimento de títulos de terra como um pré-requisito para a modernização da Amazônia, ou oferecer crédito para aqueles querendo uma agricultura de baixo carbono.

'Nós, as forças a favor da sustentabilidade, não estamos agindo contra o desenvolvimento da agricultura brasileira,' enfatizou Guidotti, da Imaflora. Estamos agindo contra um modelo antigo de produção agrícola que não é coerente com o conhecimento científico existente sobre os benefícios sociais da conservação de um ambiente saudável, os famosos serviços ambientais.'

'Nós precisamos que eles compreendam esses fatos para começarmos a ter uma discussão de alto nível sobre como nós podemos otimizar a expansão da produção agrícola, reduzindo e mitigando os impactos à natureza ao mesmo tempo' conclui Guidotti. 'Já temos à disposição as ferramentas e o conhecimento para isso.'

Fonte: Mongabay
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