Como deter a destruição da natureza, vital para a humanidade? Governos e cientistas se reúnem na semana que vem em Paris para alertar sobre o estado dos ecossistemas do planeta, atingidos, como o clima, pela ação do homem.
Esta avaliação mundial é a primeira em quase 15 anos: 150 especialistas de 50 países trabalharam durante três anos, reunindo milhares de estudos sobre biodiversidade.
Seu informe de 1.800 páginas será submetido a partir de segunda-feira aos Estados-membros da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), que discutirão ponto por ponto.
'O patrimônio ambiental mundial - a terra, os oceanos, a atmosfera e a biosfera -, do qual depende a humanidade está sendo alterado em um nível sem precedentes, com impactos em cascata sobre os ecossistemas locais e regionais', indica o rascunho do resumo do informe obtido pela AFP, que ainda poderá ser modificado.
Água potável, ar, insetos polinizadores, florestas que absorvem o CO2
A constatação sobre estes recursos é tão alarmante como o último informe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que no ano passado destacou a brecha crescente entre as emissões de gases de efeito estufa e o objetivo de limitar a mudança climática e seus efeitos catastróficos.
O texto relaciona além disso a perda de biodiversidade com o aquecimento, na medida em que ambos os fenômenos estão acentuados em parte pelos mesmos fatores, como as práticas agrícolas e o desmatamento, responsáveis por cerca de um quarto das emissões de CO2 mas também por graves danos aos ecossistemas.
A exploração de terras e de recursos (pesca, caça) são as maiores causas da perda de biodiversidade, seguidas das mudanças climáticas, da poluição e das espécies invasivas.
- 6ª extinção em massa -
O resultado é 'uma aceleração rápida, iminente do nível de extinção de espécies', segundo o rascunho. Das oito milhões de espécies estimadas no planeta - das quais 5,5 milhões são de insetos -, 'entre meio milhão e um milhão estarão ameaçadas de extinção, muitas delas nas próximas décadas'.
Estas projeções correspondem às advertências de muitos cientistas que estimam que a Terra está no início da '6ª extinção em massa', a primeira desde que o homem habita o planeta.
Mas várias fontes próximas às negociações lamentaram que o projeto de síntese não seja tão claro e não mencione esta extinção em massa.
'Não há dúvida de que estamos caminhando em direção à 6ª extinção em massa, a primeira causada pelo homem', declarou recentemente à AFP o presidente do IPBES, Robert Watson. 'Mas não é algo que o público possa ver facilmente'.
Para que haja uma tomada de consciência, 'é preciso dizer a eles que perdemos insetos, florestas, espécies carismáticas'.
Também 'os governos e o setor privado devem começar a levar a sério a biodiversidade, tanto quanto o aquecimento', insistiu o cientista.
Um ano antes da esperada reunião na China dos Estados-membros do Convênio da ONU sobre Diversidade Biológica (COP15), muitos especialistas esperam que o informe do IPBES seja uma etapa crucial em direção a um acordo de envergadura como o assinado em Paris em 2015 contra a mudança climática.
A WWF espera que esta COP15 fixe 'objetivos de alto nível'.
'Se queremos um planeta sustentável em 2050, devemos contar com uma meta muito agressiva para 2030', indicou Rebecca Shaw, cientista-chefe da ONG. 'Devemos mudar de trajetória nos próximos 10 anos, como com o clima'.
Mas dado que os remédios para o aquecimento global que implicam mudanças maiores no sistema produtivo e de consumo já suscitam grandes resistências, o que acontecerá com a biodiversidade?
'Será ainda mais difícil, porque as pessoas são menos conscientes dos problemas de biodiversidade', afirma Jean-François Silvain, presidente da Fundação francesa para a Pesquisa sobre a Biodiversidade.
Fonte:
Istoé