Ainda que a maioria dos candidatos defenda o Acordo de Paris, poucos se comprometem a reduzir combustíveis fósseis
Eles quase não tocaram no assunto. Com tantas crises urgentes no país, o aquecimento global ainda parece um assunto frio para a disputa eleitoral. Mas os programas de governo dos presidenciáveis marcam posição sobre o compromisso com o clima: Geraldo Alckmin, João Amoêdo, Guilherme Boulos, Ciro Gomes e Marina Silva prometem cumprir o Acordo de Paris - assinado por 195 países com o objetivo de neutralizar as emissões de gases causadores do efeito-estufa até 2050. Apenas Jair Bolsonaro se posicionou contra o acordo, em declarações à imprensa.
A análise das propostas climáticas dos presidenciáveis também denota escolhas para o desenvolvimento do país. Todos o candidatos analisados defendem investimentos em energia renovável, como hidrelétricas, solar e eólica. Por outro lado, a maioria, à exceção de Marina Silva, não se compromete explicitamente a retirar investimentos dos combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel. Embora não sejam o principal culpado pelas emissões de carbono brasileiras, os combustíveis estão entre as pautas urgentes para o próximo presidente, que já em janeiro terá de decidir se continua ou não com o subsídio ao diesel dado por Temer, em resposta à recente greve dos caminhoneiros.
O grande responsável pelas emissões de gases-estufa no Brasil continua sendo o desmatamento, em grande parte associado à abertura de novas pastagens para a pecuária - o setor tem representação cada vez mais expressiva no Congresso, através da bancada ruralista. Embora o Brasil tenha apresentado à ONU a sua meta nacionalmente determinada de zerar o desmatamento ilegal até 2030, apenas dois candidatos, Boulos e Marina, citam em seus programas metas de desmate zero.
OS PROGRAMAS SOBRE CLIMA DOS PRESIDENCIÁVEIS
Candidatos ao Planalto apresentam visões distintas sobre adoção e promoção de causas ambientais em seus planos de governo. Veja abaixo as posições dos principais candidatos à Presidência, colhidas nos programas de governo e em declarações à imprensa, sobre os temas: energia elétrica, transportes e combustíveis, florestas e agricultura, adaptação ao clima; desenvolvimento e economia. A análise foi feita em parceria com as organizações Instituto Clima e Sociedade, Climainfo, Observatório do Clima e Mooving Forward.
Sem contar como vai cumprir o Acordo de Paris, o programa de governo do candidato não fala em reduzir as emissões de carbono em nenhum setor específico da economia. Defende as energias renováveis e o combate ao desmatamento, mas não traz medidas específicas. Embora o ex-governador de São Paulo tenha enfrentado a crise hídrica no estado, seu programa não prevê ações contra a escassez de água, fenômeno que deve se acentuar em um cenário de clima mais incerto.
Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva tem um programa detalhado para as questões climáticas. É o único texto que cita o compromisso com a retirada de subsídios aos combustíveis fósseis. Não explica, no entanto, como deve compensar impactos dessa mudança na economia. Como boa parte do consumo ainda implica em altas emissões de carbono, especialistas alertam que a taxação de carbono pode causar inflação dos preços.
Sem apresentar medidas específicas para nenhuma das propostas climáticas, o programa de Ciro se compromete com a descarbonização da economia, ou seja, o incentivo para que a economia se desenvolva com menor dependência de emissões de carbono. Não explicita, no entanto, em quais setores se daria esse esforço. A chapa tem como candidata a vice a ex senadora Kátia Abreu, representante da bancada ruralista no Senado e protagonista de conflitos históricos ambientalistas em pautas que buscavam flexibilizar a legislação ambiental.
Com propostas climáticas bastante detalhadas em seu programa de governo e sem mencionar as escolhas feitas nos governos anteriores do PT, Haddad propõe desmatamento zero até 2022 e uma reforma fiscal verde. A exceção ainda seria o subsídio ao combustível fóssil, que permaneceria no seu governo.
Único candidato que se declarou contra o Acordo de Paris em entrevistas, Bolsonaro aponta em seu programa uma direção contrária à dos demais. Defende o aumento da participação de combustíveis fósseis na matriz energética e se coloca contrário à demarcação de terras indígenas. Por outro lado, o candidato também propõe o aumento da participação de energia solar na matriz elétrica.
Fonte:
Época