No governo Rigotto, eu era secretário da Agricultura e, à época, iniciava-se a implantação do programa nacional de biodiesel. Um empresário disse ao governador, em minha presença, que no Rio Grande do Sul a matéria-prima seria óleo de soja. Fiquei estupefato, pois me parecia que usar alimento para produzir combustível seria uma incoerência. O empresário estava certo. Se dependêssemos da cultura de outras matérias-primas, o programa não teria prosperado. No caso da soja, o óleo representa 18% do que dela é extraído. Praticamente 80% transformam-se em alimento para os animais, principalmente sob a forma de farelo.
A ousadia empresarial, com os riscos dela decorrentes, investiu na indústria de biodiesel no Rio Grande do Sul. O Estado consome aproximadamente 6% do óleo diesel usado no Brasil e produz aproximadamente 30% do biodiesel a ele misturado. O óleo de soja é 70% da matéria-prima.
Houve estímulo também ao uso do sebo, que anteriormente era resíduo de pouco valor. Em 2018, o Estado produziu aproximadamente 1,5 milhão de m3 de biodiesel, o que representou o esmagamento de 6 milhões de toneladas de soja. O farelo garantiu parcela da ração necessária para a criação de aves e suínos, abastecendo o Estado e outros mercados, inclusive externos. Não fora a produção de biodiesel, essa soja seria exportada sem geração de tributos. O combustível renovável representa significativa diminuição nas emissões de gases poluentes. Gera emprego e renda. Por ano, aumenta a arrecadação de ICMS gaúcho em aproximadamente R$ 200 milhões, além de agregar valor e garantir imprescindível insumo - farelo - para a produção de proteínas animais. Pouco se divulga sobre todos esses benefícios, que resultam da ousadia de empresários gaúchos do setor.
Fonte:
Jornal do Comércio