A maior parte do carbono está no solo. Ele está também nos oceanos, na atmosfera, nas plantas e nos combustíveis fósseis. A sua queima como gasolina e diesel desalinha o balanço de carbono da natureza. Os vulcões, na média histórica, emitem cerca de 300 milhões de toneladas métricas de CO2 por ano. Em comparação, os seres humanos emitem cerca de 40 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Isto é mais que 100 vezes as emissões dos vulcões. A combustão da gasolina e do diesel tem grande participação, assim como a queima do carvão. Ao fazer isso, movemos o carbono do ciclo lento para o ciclo rápido. Aumenta a concentração de CO2 na atmosfera e a temperatura na Terra.

Mudanças de paradigma já estão transformando o panorama energético global: a eletrificação do transporte via baterias de íons de lítio; transporte compartilhado através da maior utilização de aplicativos; a geração de eletricidade livre de carbono a partir de energia eólica e solar. Outra estratégia eficaz para reduzir esse acúmulo de carbono é substituir combustíveis derivados do petróleo por combustíveis renováveis, como o etanol e biodiesel. Apesar dessas mudanças, os combustíveis fósseis ainda representam 80% do uso global de energia.

Este é um grande desafio, mas é também uma excelente oportunidade para os biocombustíveis. E no caso da região Sul do Brasil para o biodiesel. A adição de biodiesel no diesel aumentará um ponto percentual ao ano, passando dos atuais 10% (B10) para 11% (B11) em junho de 2019. Esse aumento continuará até março de 2023, quando todo o diesel vendido ao consumidor final conterá uma mistura de 15%. Este valor poderá ser ainda maior, mas dependerá de testes neste período. Estima-se que a produção anual de biodiesel passe de 5,4 bilhões de litros para mais de 10 bilhões de litros entre 2018 e 2023. Isto representa um aumento de 85% na demanda doméstica em cinco anos. Poucos produtos têm essa elasticidade esperada na sua demanda em tão pouco tempo.

Os biocombustíveis fornecem cerca de 4% do total de combustível rodoviário a nível mundial. As análises da Agência Internacional de Energia (IEA) mostram que este valor poderá chegar a 25% em 2050. O Brasil foi o segundo maior mercado mundial de biodiesel em 2018, logo depois dos Estados Unidos. O Centro-Oeste (41%) e o Sul (40%) no Brasil são as regiões com maior produção, responsáveis por cerca de 81% do total. Se as previsões atuais de crescimento econômico para a economia brasileira e de maior uso de biodiesel forem mantidas no país, os investimentos no setor podem chegar a R$ 25 bilhões até 2030.  Em 2017, foi promulgada a Lei nº 13.576, que dispõe sobre a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). Esta política busca propiciar a previsibilidade necessária para os biocombustíveis no mercado nacional de combustíveis. Assim, o Brasil deu mais um passo para a redução de emissões de gases causadores do efeito estufa (CO2) e com os compromissos do Acordo de Paris (COP21). E o biodiesel no transporte urbano tem muito a contribuir. Se utilizarmos em um ônibus a mistura de 20% de biodiesel no diesel fóssil (B20), isto representa uma redução de 18 toneladas/ano de CO2. É estimado que o Brasil tenha 109 mil ônibus. Se usarmos o B20 nesta frota, evitaremos emitir cerca de 2 milhões de toneladas de CO2 por ano, o que representa mais de 14 milhões de novas árvores plantadas.

Existem importantes desafios que precisam ser superados para que o biodiesel se torne uma fonte de energia convencional. Esses desafios variam desde o custo e disponibilidade de matéria-prima, como também a qualidade do biocombustível nos padrões internacionais de compatibilidade. Esses desafios não podem ser resolvidos da noite para o dia. O caminho para levar o biodiesel ao palco principal será longo. A região Sul em especial, têm excelentes exemplos que podem abreviar esta trajetória, e entrar neste ciclo de investimentos.

Fonte: Revista Amanhã